Here Comme Des Garçons

Por Juliana Andrade (revista AIR 2006)

Rei Kawakubo já fazia a diferença na década de 70, em Tóquio. Seja por sua inteligência e personalidade vanguardista, seja por sua maneira de desconstruir a perfeição comum. E foi dessa mente visionária que nasceu a Comme des Garçons, hoje ainda uma das mais expressivas e ousadas grifes do mundo.

Inovadora dos convites para os desfiles, das sacolas de papel espelhado até os artistas e atores que desfilam suas roupas no lugar das grandes tops da moda, Rei Kawakubo reconstrói sua grife a cada estação. A Comme des Garçons é um constante questionamento não só ao comportamento mas ao público e à própria marca. Sempre avançando, sem medo, cada produção é um convite a caminhar para frente, de olhos bem abertos e passos firmes.

Numa produção Comme des Garçons não cabe legenda. Não faz sentido olharmos para a fotografia de uma saia da grife e logo abaixo lermos “saia assimétrica”. A imagem à nossa frente não pode ser rotulada, ela tem um caminho a percorrer na nossa consciência, ela deve tocar nossos sentimentos e classificar-se por si só. Pois Comme des Garçons não segue regras, linhas perfeitas e tampouco impota-se se o abotoamento está correto. Aliás, o que é mesmo o correto? Seria uma tira que cruza? Uma saia inflada? Um listrado interrompido, um sapato masculino calçando uma moça, uma gola enorme, botões sem casas, casas sem botões? Talvez seja não corrigir! Talvez seja extrapolar, ir do branco ao preto, do sépia ao cinza, do Príncipe de Gales ao Pied-de-Poule. Tudo de forma desformemente nova, pois “A criação não é algo que possa ser calculado” – Rei Kawakubo.

À frente da Comme des Garçons, Rei Kawakubo faz do vestuário um ato conceitual. Não só inspira jovens estilistas como, muitas vezes, materializa sentimentos que muitos ainda não conseguem traduzir. Kawakubo literalmente usa o tecido como matéria-prima para esculpir sua arte.